No livro Urupês, estão publicados dois artigos importantes de ML. O primeiro, 'Velha Praga', teria sido a gênese da carreira de escritor de Monteiro Lobato. Sendo ele fazendeiro no interior de SP e sentindo-se prejudicado pelo excesso de queimadas provocadas pelos caboclos, escreve um texto indignado e o envia à seção de reclamações do jornal 'O Estado de São Paulo' que, percebendo o valor do escrito, publica-o, com destaque, fora das 'Queixas e Reclamações'. E, assim, ML começou a abrir seu espaço como 'homem de letras'.
Em 'Velha Praga', o então fazendeiro ML chama o caboclo ignorante da roça de 'piolho da terra' e descreve-o como um ser seminômade que se instala em qualquer pedaço de terra, faz o seu rancho de sapé [que brota da terra como um 'urupê', de um dia para o outro], queima e destrói o máximo em troca de uma pequeníssima roça para subsistência mínima e, geralmente 'tocado' pelo proprietário da terra, parte, com a família miserável, para um novo sítio e novas devastações.
No artigo 'Urupês', ML define e caracteriza, com precisão de detalhes o nosso caboclo, que ele chama de Jeca Tatu, como uma criatura ignorante, preguiçosa, inútil, sem nenhuma ambição, nenhum senso de arte, nenhum desejo de permanência e de realização. Entre outras coisas, o artigo diz: 'Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha nesta palavra atravessada de fatalismo e modorra: nada para a pena.
Nem cultura, nem comodidades. De qualquer jeito se vive'. E mais adiante: '...o caboclo é o sombrio urupê de pau podre a modorrar silencioso no recesso das grotas'.
Urupê, segundo o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, é uma espécie de fungo da família das poliporáceas; orelha-de-pau, pironga.
Eis alguns contos:
1. O Faroleiro
O narrador - Eduardo - conta uma tragédia que presencia enquanto permanece por alguns dias, como curioso, em visita ao Farol dos Albatrozes. O Faroleiro Gerebita fala a Eduardo de seu auxiliar - Cabrea - tachando-o de louco e dizendo ser Cabrea a única pessoa no mundo que não poderia estar lá com seu ajudante. Insinua também que ele estaria correndo o risco de sofrer uma agressão daquele louco.
Certa noite, Eduardo acorda com ruídos de luta corporal, que culmina com a morte de Cabrea. Gerebita conta, depois que fora agredido pelo doido e, por isso, tivera de matá-lo. E pede a Eduardo que confirme a explicação que ele dará sobre a morte do ajudante que ele caíra na água.
Quando deixa o farol, Eduardo fica sabendo que o morto havia roubado, tempos atrás, a mulher de Gerebita. Conclui, então, que a briga fora provocada pelo próprio faroleiro e que, matando Cabrea, Gerebita executara um ato de vingança.
2. O Engraçado Arrependido
O Pontes, sujeito engraçadíssimo, aos 32 anos resolve mudar de vida, deixando de viver apenas de suas pilhérias. Porém ninguém o leva a sério quando ele procura trabalho entre os conhecidos de sua cidadezinha. Planeja, então, conseguir um cargo público [coletor federal], com auxílio de um parente da capital, que tinha influências políticas. Esse parente combinou que, logo que morresse o velho coletor - major Bentes - o Pontes deveria avisá-lo para que sua nomeação fosse conseguida imediatamente.
Era preciso, pois, pensou Pontes, 'providenciar' na morte do major Antônio Pereira da Silva. Tratava-se de um velho cardíaco [portador de um aneurisma], e Pontes planeja matá-lo num estouro de riso. Acaba conseguindo isso durante um jantar, na própria casa da vítima. Depois de contar a piada fatal, o 'assassino', tomado de profundo remorso e pavor, esconde-se em casa por vários dias, até receber do parente importante a notícia de que o cargo fora dado a outro, por não ter ele [Pontes] se manifestado logo após a morte do Major Bentes, conforme o combinado. Pouco depois de receber essa notícia, Pontes se suicida, enforcando-se numa perna de ceroula. Todos riram dessa última 'piada' do engraçado arrependido.
3. A Colcha de Retalhos
O narrador vai visitar um conhecido, José Alvorada, morador da roça, para propor-lhe um trabalho. Durante a visita, fica conhecendo a única filha do José, Maria das Dores, apelidada Pingo D'Água, bela mocinha tímida de 14 anos. A avó, nhá Joaquina, mostra ao visitante a colcha de retalhos que fazia para a neta, aproveitando sobras de todos os vestidinhos da menina. Seria seu presente de noivado, e o último retalho seria o do vestido de casamento.
Dois anos depois, o narrador volta ao sítio, que se encontrava em ruínas, para rever José Alvorada. Morrera-lhe a esposa [Sinh'Ana], e Pingo D'Água fugira, para ser 'moça' na cidade, levada por um rapazote da vizinhança. A velha avó, acabada pelos desgostos, abandonara a confecção da colcha. Lamentando a perda da neta como se esta houvesse morrido, dizia apenas aguardar a própria morte para levar a colcha inacabada feito mortalha. O narrador diz que a velha morre logo depois e não lhe satisfazem a última vontade.
4. A Vingança da Peroba
João Nunes e Pedro Porunga são vizinhos. Moram em sítios próprios, separados pelo espigão do Nhéco. Porunga é monjoleiro afamado, próspero e só tem filhos homens. Nunes é cachaceiro e briguento; tem oito filhas e apenas um menino, de 7 anos, apelidado Pernambi.
Os dois vizinhos viviam em desavença, e João Nunes tinha inveja da prosperidade de Pedro. Para tentar igualar-se ao Porunga, Nunes constrói um monjolo, com o auxílio do compadre Teixeirinha Maneta, também cachaceiro e pouco competente. Para fazer o monjolo, Nunes derruba uma velha peroba [árvore de madeira nobre] q eu ficava exatamente na divisa das duas terras. O Porunga enfurece e roga praga ao Nunes.
Mais tarde, pronto o monjolo, verifica-se que tinha defeito e funcionava muito mal.
Toda a vizinhança troçava da engenhoca, que foi apelidada de Ronqueira.
Certo dia, após uma grande bebedeira de Nunes, que fazia o filho embriagar-se também, este desaparece, enquanto o pai dorme pesadamente. Pouco depois, ouve-se um grito terrível. A mãe e as irmãs correm. A cabeça do menino estava sendo esmigalhada pelo monjolo. O bêbado, quando depara com a cena dantesca, endoidecido, despedaça o monjolo a golpes de machado e cai abraçado ao corpo do filho [separado da cabeça]. O acidente teria acontecido porque a peroba derrubada, que fornecera a madeira ao monjolo, estaria cumprindo seu papel de 'pau de feitiço'*.
*Segundo crença popular, cada mato teria uma árvore destinada a vingar-se por todas as que são derrubadas. Ninguém saberia que árvore seria essa, mas 'o desgraçado que acerta meter o machado no cerne desse pau pode encomendar a alma para o diabo, que está perdido'.
É o pau de feitiço.
5. Um Suplício Moderno
Depois de quase cinco páginas, satíricas e irônicas, sobre as terríveis inconveniências do ofício de estafeta [antigo mensageiro dos Correios, que se deslocava a cavalo], o narrador começa a história propriamente dita. Esta conta as desventuras de Izê Biriba, um humilde cabo eleitoral da cidadezinha de Itaoca. Nomeado estafeta, logo após a eleição de um chefete local, seu correligionário, Biriba passa por todos os suplícios do cargo, sem conseguir livrar-se dele. Alguns dos suplícios: andar muitas léguas no lombo do cavalo magro; transitar por péssimos caminhos; suportar todas as intempéries; procurar e carregar as encomendas mais absurdas; ouvir xingamentos dos insatisfeitos com as encomendas; pagar os juros pela compra do cavalo que fora obrigado a comprar e era obrigado a continuar sustentando, etc. Biriba bem que tentava pedir demissão do cargo, mas o chefe, espertalhão e inconsciente, aproveitando-se do excesso de subserviência e humildade de Biriba, 'convence-o' de que ele conseguira um ótimo emprego e que Biriba não poderia mostrar-se ingrato. E o infeliz estafeta, que tinha o péssimo hábito de replicar a tudo com um submisso 'sim senhor', continua sofrendo por um bom tempo ainda.
Quando se aproximam as próximas eleições, Biriba decide evitar, a qualquer custo, que seu partido vencesse de novo. Só assim ele terá chances de livrar-se do maldito emprego. Às vésperas da eleição, seu chefe político encarrega-o de importantíssima missão, e ele deixa de cumpri-la, desaparecendo inexplicavelmente de Itaoca, por dez dias. Graças a esta deslealdade política de Biriba, seu partido é derrotado.
Porém, quando Biriba volta à cidade, certo de que seria demitido, o novo chefe político [Evandro], que já pusera no olho-da-rua todos os partidários de Fidêncio [o vencido], comunica a Biriba que, como ele era o único sujeito bom 'da quadrilha do Fidêncio', seria mantido no cargo de estafeta. Desesperado, Biriba [o 'sim senhor'] desaparece para sempre.
6. Meu Conto de Maupassant*
Um ex-delegado de polícia, viajando de trem, conta a um amigo um fato em que ele tivera certa participação profissional. E diz ao amigo que se lembrou de lhe narrar o seu 'conto de Maupassant' porque estavam passando por uma velha árvore, um saguaragi, que teria sido 'comparsa' dos acontecimentos.
Sucedera que, junto daquela árvore, quando o narrador era delegado naquela região, aparecera o 'corpo morto' de uma velha picada a foice. O principal suspeito do bárbaro crime, um certo italiano de má fama, dona de uma venda, fora preso, mas solto, logo depois, por falta de provas.
Muito tempo depois, preso por outros delitos, o suspeito, recambiado à cidade, donde se afastara logo após o crime, suicida-se em circunstâncias estranhas: joga-se pela janela do trem, justamente no memento em que ele cruza com o saguaragi onde aparecera o corpo da velha assassinada. Isso leva a pensar que ele realmente havia cometido aquele crime e que se suicidara pelos remorsos que deveria sentir. Logo depois, porém, é preso um filho da velha assassinada: havia matado um companheiro a foiçadas. E, para espanto de todos, confessa Ter sido também o assassino da própria mãe.
*Guy de Maupassant: grande contista francês do século XIX, que explorava, principalmente, temas sobre amores trágicos e mortes violentas.
7. Pollice Verso
Obs.: Este título é uma expressão latina que significa polegar para baixo, gesto usado pelos antigos romanos quando desejavam que, nos combates de gladiadores, fosse morto o gladiador vencido.
Nesse conto, ML faz uma sátira mordaz à incompetência e desonestidade no exercício da medicina.
Trata-se da história do filho mais moço do Cel. Inácio da Gama, o Inacinho, que sai de Itaoca para estudar medicina no Rio. Formado, volta a Itaoca. Incompetente, mau caráter, sem nenhuma vocação pra o trabalho médico, importa-se apenas em descobrir um meio rápido de ganhar dinheiro. Seu maior objetivo era uma viagem a Paris, onde poderia reencontrar a amante francesa que conhecera no RJ.
Assim, ao tratar o primeiro paciente rico em Itaoca, Inacinho calcula, friamente, que, estendendo o 'tratamento' até deixá-lo morrer, poderia cobrar muito mais caro. E assim faz. Os herdeiros, inconformados com os absurdos honorários cobrados, recorrem à justiça. Esta decide favoravelmente ao médico inconsequente, apoiada na opinião, também desonesta e interesseira, dos outros médicos da cidadezinha.
Consequentemente, o doutor Inacinho recebe a sua bolada e vai encontrar-se com Yvonne em Paris, dizendo ao ingênuo pai [orgulhosíssimo do filho importante] que iria aperfeiçoar estudos na Sorbonne.
8. Bucólica
Depois de fazer divagações sobre a beleza e harmonia da natureza campestre [bucólica] e de relatar dois rápidos encontros com caboclos humildes, o narrador conta o acontecimento principal, que pode ser assim resumido:
Entrando no sítio de Maria Veva, o narrador encontra o marido dela, Pedro Suã, que diz estar indo providenciar no enterro da própria filha, a menina Anica. O narrador vai, então, até a casa de Nhá Veva, mulher feia, papuda e mal-encarada. Esta, secamente, evita dar detalhes sobre a morte da filha, uma pobre aleijadinha, de 7 anos.
Retirando-se irritado, o narrador, pouco adiante, cruza com Inácia, a preta agregada aos Suãs. Esta, muito chorosa, de trouxa na cabeça, diz que está indo embora, porque não suporta mais viver junto da malvada Maria Veva. E relata que ela [Inácia] era quem cuidava da aleijadinha. Na noite anterior, porém, não estando Inácia em casa e tendo a menina ficado com febre, a maldosa mãe não atendera às suplicas da doentinha, que pedia água. A pobre Anica, no desespero da febre e da sede, chegara a arrastar-se até junto do pote d'água, mas não conseguira beber. A diabólica Nhá Veva não fizera um gesto [há muito que parecia querer livrar-se da aleijadinha], e o infeliz Pedro Suã, bêbado, não vira nada. A menina, portanto, morrera de sede, segundo repetia, desesperada, a boa Inácia.
Tudo isso a preta ficara sabendo pelo Zico, um negrinho que também vivia junto aos Suãs e que dissera não ter socorrido a menina por medo de ser castigado pela terrível Nhá Veva.
9. O Mata-Pau*
Elesbão do Queixo d'Anta casa com Rosinha Póca, de família onde 'as saias nunca valeram nada'. Honesto e trabalhador, Elesbão prospera. Não tinham filhos, até que lhes aparece uma criança enjeitada. Criam-na e à medida que cresce, o menino revela-se de má índole. Chama-se Manoel Aparecido e ganha apelido de Ruço, por causa da pele e cabelo claros. Com dezoito anos, preguiçoso, trapaceiro, mau-caráter, Ruço torna-se amante da mãe adotiva, que só então confirma a má casta donde proviera.
Elesbão, alertado pelo velho pai antes de morrer, passa a vigiar a esposa. Ruço, com medo de ser descoberto, mata o 'pai' numa emboscada.
Logo depois, começa a maltratar Rosa, até obrigá-la a vender tudo o que ainda restava da propriedade deixada pelo marido. Combinam viajar para o oeste. Na véspera da partida, pela noite, Rosa acorda com a casa em chamas e a porta trancada por fora. Ela consegue safar-se com as roupas em fogo, atira-se ao tanque, é socorrida mais tarde, cura-se das feridas, mas enlouquece.
*Mata-pau: árvore parasita, originária de pequenos filamentos, que 'engole' aquela que a sustentou.
10. Bocatorta
As terras do Atoleiro, pertencentes ao Major Zé Lucas, abrigavam um profundíssimo pântano, que já engolira muitos animais e um homem, pelo menos.
Nas matas da fazenda, habitava o Bocatorta, criatura monstruosa, de corpo e rosto totalmente deformados, que era filho de antiga escrava dos pais do Major.
Certa vez, visitando a fazenda, o bacharel Eduardo, noivo de Cristina, única filha do Major, estimulado pelas histórias macabras que se contavam sobre o Bocatorta, pede para ir conhecer o monstro. Apesar dos protestos de Cristina, que sempre temera o Bocatorta, ela e os pais acompanham Eduardo à 'toca' do negro maldelazento.
Todos voltam em estado de grande mal-estar, num fim de tarde em que se arma uma tempestade. Cristina não passa bem à noite, amanhece febril e logo está atacada de pneumonia, doença que mata dez dias depois.
Na noite do dia em que a bela Cristina fora enterrada, seu noivo Eduardo resolve visitar o túmulo para lhe dar um último adeus. Chegando ao cemitério, descobre, horrorizado, que a sepultura estava sendo violada pelo repulsivo Bocatorta. Chamados o Major e o capataz da fazenda, perseguem o horrendo monstro necrófilo, lutam com ele já dentro do mato e, finalmente, em vez de matá-lo com um tiro, acabam por arrastá-lo para dentro do pântano, sumidouro implacável, de cujo lodo ninguém saía vivo. Foi a punição imposta ao hediondo ser que desenterrara a infeliz Cristina e 'babujara em seus lábios o beijo único de sua vida'.
11. O Comprador de Fazendas
Espigão era o nome de uma fazenda improdutiva, de má terra e muitos azares. O dono, David Moreira de Souza, quer vendê-la, mas não arranja comprador.
Pedro Trancoso, o Trancosinho, era um jovem espertalhão, que se fingia, às vezes, de comprador de fazendas, para tirar proveito de alguns dias de bela hospedagem na casa dos fazendeiros. Certa vez, simula interesse em comprar a fazenda arruinada do Moreira, que forjara certas 'arrumações' e benfeitorias para enganar o provável comprador.
Trancoso, brindado com excelente hospedagem enquanto examina o negócio, leva de presente o rosilho do Moreira e promete voltar logo, para efetivar o negócio. Como demora o seu retorno, Moreira acaba descobrindo que ele era um trapaceiro. A família enche-se de revolta contra o impostor.
Acontece, porém, que Trancoso acerta na loteria e decide comprar mesmo a fazenda do Moreira, pretendendo, inclusive, casar-se com Zilda, a filha do fazendeiro arruinado. Quando volta, seguro de que tudo daria certo, Moreira, que não sabia do prêmio lotérico, vinga-se do espertalhão, expulsando-o com uma grande surra de rabo de tatu. E perde a única oportunidade que teria de vender a fazenda do Espigão e, de quebra, descarta-se da filha solteira.
12. O Estigma
Bruno, o narrador, encontra Fausto, antigo companheiro de escola, em circunstâncias casuais, na fazenda do próprio Fausto. Bruno dica sabendo, então, que o ex-colega, logo depois de formado, casara-se, por interesse, com uma mulher rica, que logo se revela uma pessoa má. Fausto vivia seis meses na fazenda e seis meses na capital. Além dos filhos, tinha, na fazenda, uma prima órfã, a quem resolvera proteger após a morte dos pais.
Laura [ou Laurita], a órfã, aos 15 anos, tinha viço e beleza irresistível e desperta uma profunda paixão em Fausto, que padecia as agruras de um casamento errado.
Bruno parte da fazenda, lamentando a sorte do amigo, e só volta a encontrá-lo vinte anos depois, quando Fausto lhe narra a continuação de seu drama. Apesar de manter o seu amor secreto em segredo, a mulher ciumenta e perversa, 'leu tudo dentro de mim, como se o coração me pulsasse, num peito de cristal'.
A partir daí, a vida de Fausto torna-se cada vez mais infernal, a mulher acusando de amásios a ele e a Laura, que, na verdade, jamais tivera qualquer tipo de relacionamento amoroso.
Certo dia, voltando de uma caçada e cientificado de que Laurita desaparecera desde cedo, Fausto organiza uma batida no bosque próximo à fazenda e descobre morta a menina, com um tiro no peito e o revólver dele junto de sua mão direita.
Tudo indicava um suicídio inexplicável. Fausto, além do grande sofrimento pela perda do seu amor secreto, vive angustiado pelo estigma daquela morte trágica. Ficara sabendo que, pouco depois do desaparecimento de Laura, na tarde da tragédia, sua mulher estivera fora de casa por algum tempo. E, durante velório e enterro, ela se recusara a ver a morta, trancando-se no quarto e alegando indisposição pelo estado de gravidez em que se encontrava. Dias depois, a mulher volta à vida normal, demonstrando mudança de gênio e falando quase nada. Quando, meses depois, nasce-lhe o filho, Fausto constata, espantado, que o menino trazia uma marca no peito, um estigma, que reproduzia com exatidão o ferimento que ele vira no peito de Laurita; 'um núcleo negro, imitante furo de bala, e a 'cobrinha', uma estria enviesada pelas costelas abaixo'. A 'cobrinha', vermelha, representava o sangue escorrido.
Fausto compreende que aquele estigma era a denúncia do crime pelo único ser que o testemunhara: o feto em formação no ventre da criminosa.
Quando o marido lhe mostra o peito do menino e a acusa, a mulher desfalece. Logo depois, é atacada de uma febre puerperal gravíssima e vem a morrer.
O filho marcado era um rapazinho imberbe, único dos filhos que ainda vivia com Fausto, quando Bruno reencontra o amigo numa rua do Rio de Janeiro, vinte anos depois do primeiro encontro, na fazenda.
A narrativa é feita em primeira pessoa, por Bruno.