(Séc. V a.C. - séc IV/V d.C)
Escola de pensamento fundada em Atenas, segundo alguns autores, por Antístenes. Considerada uma das escolas socráticas, juntamente com os megáricos e os cirenaicos, recebendo tal denominação por constituir-se como uma determinada interpretação dos ensinamentos de Sócrates, especialmente no que diz respeito à correlação entre conhecimento e virtude. Seu nome deriva do ginásio de Cinosarges, onde Antístenes ensinava e no qual se reuniam os seguidores desta escola. Outra explicação para sua denominação é a palavra cão (em grego xýon), aceita pelos cínicos como um qualificativo elogioso. O principal representante desta escola é Diógenes de Sínope. O pensamento cínico manteve-se atuante até os séculos III/II a.C., onde, segundo algumas opiniões, teria se fundido ao estoicismo. A escola dos cínicos ressurgiu, após esta interrupção, ao final do primeiro século de nossa era, sobrevivendo até o final do mundo antigo. Sua doutrina continuou sendo propagada por alguns autores cristãos, como Salústio e Máximo de Alexandria. As obras da antiga escola cínica, em especial de Diógenes, se encontram perdidas. De Antístenes, que parece ter sustentado duras polêmicas com Platão, restam-nos poucos fragmentos, que chegaram até nossos dias sob forma de citação ou comentário (doxografia) através de diferentes escritos.
Mais que uma doutrina, a antiga escola cínica constitui uma filosofia de vida. Esta prega a vida segundo a virtude, conseguida através do exercício, simultaneamente corporal e espiritual. O bem e a liberdade são alcançados através da dominação das necessidades e desejos, sendo o herói Hércules e seus trabalhos o ideal de autogoverno (autarquia) a ser perseguido pelo filósofo cínico. Os cínicos pregam a conaturalidade entre os homens, de modo que única seja a forma de vida, sem as distinções ocorridas entre as diferentes cidades, e que cada homem seja cidadão do mundo, como se autodenominava Diógenes. Também anseiam por um retorno à vida natural, uma vez que, para estes pensadores, são o fogo e a técnica dos homens os principais criadores das necessidades humanas. Opõem-se à escravidão, uma vez que os homens são todos iguais segundo a natureza.
Os cínicos polemizam com a filosofia de sua época, negando qualquer realidade fora daquela que se pode ver e apanhar com as mãos. Acerca da linguagem, Antístenes afirma que a cada coisa somente corresponde um nome, e que somente este pode ser usado para predicá-la. Do contrário, se ao homem podemos chamar bom, mortal, branco, etc, estamos tratando o que é um - o homem - como sendo múltiplo, o que não pode ocorrer. Desta forma, ao homem só podemos chamar homem, do bom só podemos dizer que é bom,e assim por diante. Antístenes teria, ainda, afirmado a impossibilidade de expressar o falso. Se aquele que fala diz algo, aquele que diz algo diz o ser; quem diz o ser exprime o verdadeiro; logo, o falso não pode ser dito.