Em algumas partes do mundo existe uma parcela significativa de pessoas que adotam o CRIACIONISMO como meio de explicar como os seres vivos surgiram na face da Terra: é muito mais simples imputar a “culpa” do surgimento dos seres vivos a Deus, do que tentar explicá-la de forma racional. Os criacionistas defendem ardorosamente o que está literalmente disposto na Bíblia Sagrada, especialmente no livro mais antigo e mais metafórico: Gênesis. A explicação da origem de tudo, desde o Universo até o aparecimento do próprio homem dá-se, nas poucas linhas deste maravilhoso livro, como um passe de mágica: plim! Surgiu o firmamento, os planetas, as estrelas! Plim! Surgiu a água, as matas, os animais! E assim por diante. Deus produziu tudo no intervalo temporal de seis dias! Não estamos, com esta crônica descredenciando Deus do seu imensurável poder, mas cremos que a ciência existe exatamente para tentar explicar os fatos e fenômenos da natureza. Não podemos interpretar, na minha opinião, ao pé da letra, cada passagem de Gênesis, como uma prova cabal e única do que tudo aquilo realmente representa. É preciso lembrar, sempre, que a Bíblia é um livro de imenso valor religioso e histórico, mas não é, definitivamente, um livro científico.
O entendimento do processo de evolução dos seres vivos passa por uma combinação de mecanismos nem sempre bem visível aos olhos de todos. A moderna concepção de evolução combina eventos extremamente aleatórios, como as mutações e a recombinação gênica, com eventos relacionados aos processos de adaptação, como a seleção natural e os eventos migratórios. A recombinação gênica produz combinações aleatórias em dois fenômenos indiretamente relacionados: a gametogênese e a fecundação. As mutações são diversas e podem criar desde combinações diferenciadas das originais até a existência de novos genes (quando ocorrem alterações na sequência de nucleotídeos). A seleção natural e as migrações são o resultado expressivo das necessidades adaptativas. Se um ser vivo apresenta-se bem adaptado ao meio terá sucesso reprodutivo, logo será selecionado para continuar presente, apresentando sua população em estado crescente. Com a redução das reservas alimentares nas diversas regiões, algumas espécies apresentam hábitos migratórios, passando a compor novas populações e levando para estas regiões novos conjuntos de genes perfeitamente compartilháveis por processos reprodutivos com a população original.
Dentro de um contexto mais específico, as espécies foram surgindo e gradativamente substituindo suas ancestrais. Estas espécies ancestrais muitas vezes não são conhecidas. Dificilmente o registro fossilífero deixa marcas que descrevem estas relações de forma perfeita. Na maioria das vezes precisamos supor a existência prévia de um ancestral comum, utilizando métodos experimentais de comparação entre seus “prováveis descendentes”. Como estes ancestrais não existem é importante estabelecer grupos de ligações entre os seres para identificar sua proximidade filogenética. Pode-se gerar uma gama muito grande de comparações entre os seres de um citado grupo. Dentre os principais parâmetros comparativos entre vegetais, por exemplo, estão: comparação morfológica, comparação anatômica, comparação bioquímica e a comparação gênica.
Surge então um problema: de que forma as comparações entre os seres vivos poderiam ser feitas utilizando-se pelo menos um destes parâmetros comparativos? A resposta: a CLADÍSTICA.
A cladística utiliza modelos gráficos matemáticos para explicar as relações filogenéticas entre os seres vivos, baseando-se nas comparações morfológica, anatômica, etc. Seguem-se na montagem de cladogramas uma série de critérios que procuram separar as espécies colocando-lhes graficamente de forma que se perceba as relações entre as mesmas.
O gráfico ao lado (Gráfico a) mostra as relações filogenéticas entre as espécies A, B, C, D e E. A cladística é uma forma de demonstrar exatamente estas relações de parentesco. Podemos fazer uma série de suposições observando as relações ao lado. Por exemplo: é possível dizer que as espécies A e B são as mais próximas filogeneticamente. Estas mesmas espécies têm um ancestral comum, representado pelo nó (“node”) entre os mesmos (indicado com uma seta).
Quando ocorre uma bifurcação como esta se diz que as espécies são monofiléticas, isto é, num passado remoto um ancestral de ambas passou por mecanismos de especiação, gerando as duas novas espécies (A e B). Mas que fatores levaram a conclusão exposta no cladograma? Pode ter sido qualquer um dos parâmetros citados anteriormente. Pode ser, por exemplo, um conjunto de critérios morfológicos.
O papel da cladística não pára por aí. É preciso revelar que as propriedades de construção de cladogramas podem fundir num só exemplo mais de uma comparação, ou seja, utilizando mais de um critério, por exemplo. A cladística se coloca, portanto, como uma importante ferramenta na determinação e na visualização da filogenia entre os seres vivos, assunto sobre o qual os criacionistas não teriam inteligência suficiente para compreender.