I- Autor
O dramaturgo Nelson Rodrigues era pernambucano de Recife, onde nasceu no dia 23 de agosto de 1912. Quatro anos depois a família se mudava para o Rio de Janeiro.
Seu pai era jornalista e fundou o Jornal A Manhãs, onde Nelson, ainda adolescente inicia sua carreira jornalística como repórter policial.
Nelson Rodrigues trabalhou em vários jornais [O Globo, Última Hora,...] e nas diversas publicações do grupo Diários Associados, como cronista, destacando-se como cronista esportivo. Escrevia também folhetins - romances de caráter popular, publicados em capítulos nas páginas do jornal.
Três mortes o abalaram muito. Seu irmão Roberto é alvejado, dentro da redação do jornal Crítica [novo jornal fundado por seu pai], por uma mulher da alta sociedade, em represália a notícias sobre seu divórcio. Meses depois, morre seu pai. Seis anos depois seu irmão Jofre morre de tuberculose. \Nelson Rodrigues também era tuberculoso, tendo se internado várias vezes em Campos de Jordão.
Ao longo de sua carreira teatral, várias vezes o dramaturgo teve problemas com a censura federal que, em alguns casos, chegou a proibir a apresentação de peças suas.
Embora tenha equivocadamente apoiado o golpe militar de 64, seu filho Nelson entra para a guerrilha, como militante do MR8, vive na clandestinidade, acaba sendo preso em 1972 e só é solto em 1979, posto em liberdade condicional. No ano seguinte, no dia 21 de dezembro, morria Nelson Rodrigues, com 68 anos de idade.
II- Obra:
A peça 'Vestido de Noiva' tem, em seu cenário, três planos que se intercalam: o plano da alucinação, o plano da realidade e o plano da memória.
Alaíde, moça rica da sociedade carioca, é atropelada numa das noites do Rio. No plano da realidade, jornalistas correm para se informar e publicar em seus jornais o fato, enquanto médicos correm para salvar o corpo inerte da mulher, jogada numa mesa de operação entre a vida e a morte. No plano da alucinação, Alaíde procura por uma mulher chamada Madame Clessi, sua heroína, que foi assassinada no início do século, vestida de noiva, pelo seu namorado. As duas se encontram e conversam. Um homem acusa Alaíde de assassina, e ela revela a Madame Clessi que assassinou o marido Pedro com um ferro após uma discussão [o plano da memória reconstitui a cena]. Mais tarde, ambas percebem que o assassinato de Pedro não passou de um sonho de Alaíde.
Enquanto os médicos tentam quase o impossível para salvá-la da morte no plano da realidade, Alaíde e Madame Clessi conversam no plano da alucinação, tentando se lembrar do dia do casamento da primeira, e de duas mulheres que estavam presentes enquanto Alaíde se preparava para a cerimônia: a mulher de véu e uma moça chamada Lúcia. Ambas são, na verdade, a mesma pessoa: a irmã de Alaíde, que reclama o fato desta ter lhe roubado o namorado.
Segue-se uma série de intercalações entre os planos: no plano da realidade, o trabalho dos médicos para reanimar Alaíde, e dos jornalistas querendo informações sobre a tragédia do atropelamento. Nos planos da alucinação e da memória, a história de Madame Clessi, com seu namoro com um jovem rapaz e sua morte, se funde com a de Alaíde no dia do casamento com Pedro. Segue-se a discussão com Lúcia minutos antes da cerimônia, que a acusa violentamente de ter lhe roubado o noivo. O casamento acontece, e Alaíde se vê vítima de uma conspiração entre Lúcia e Pedro, que pretendem matá-la para ficarem juntos.
No plano da realidade, Alaíde morre na mesa de operação. Enquanto Alaíde assiste com Madame Clessi cenas de seu enterro e de sua discussão com Lúcia momentos antes do atropelamento, quando jura que mesmo morta não a deixaria ficar com Pedro. Lúcia, no entanto, casa-se com Pedro, mesmo tendo em sua mente a imagem de Alaíde com seu vestido de noiva.